quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O FIM DA CACAUICULTURA


Acabaram-se os tempos áureos das riquezas, do luxo, do coronelismo, do poder e da fama que o cacau impôs no Brasil durante muitos anos. Simplesmente acabou. Eu que pude acompanhar a fartura que toda minha família tinha, hoje vejo a triste realidade que o cacau se tornou: uma ilusão. As poucas chuvas, a seca das nascentes de águas, a vassoura de bruxa, as Leis trabalhistas e o êxodo rural minaram gradativamente a cultura do cacau.

Um pé de cacau já foi semelhante a um pé de dinheiro: esticava-se a mão, arrancava-se o fruto e comprava-se o que queria. Se você acha isto um exagero, lhe digo que o cacauicultor recebia o dinheiro antes mesmo da colheita, pois vendia o fruto quando ainda era flor. Ninguém precisava estudar, nem se formar. Nem os filhos do fazendeiro (pelo simples fato de não precisar trabalhar para ninguém), nem os filhos do trabalhador (por se tratar de um filho de uma escravidão oculta, que os obrigavam a trabalhar das 5h até as 19h como verdadeiros animais).

E a vida seguia assim mesmo: Trabalhador não tinha direito a nada, apenas a trabalhar. Nem direito a adoecer, pois só ganhava alguma coisa se estivesse na roça enfrentando chuva, mosquitos, cobras, maribondos, abelhas, espinhos e feridas causadas pelo facão e pelo podão. Moravam lá mesmo em casas de sapé com as paredes furadas e cheias de barbeiros, camas de taboas, sem água encanada e o banheiro era o mato.

Fui recentemente na fazenda de um amigo. Ele fez questão de me mostrar sua nova plantação de “cacau clonado” (invenção da CEPLAC que diz ser resistente a vassoura de bruxa). Ele me mostrou a numeração em cada pé (VB-514, VB-892), que significa a tecnologia empregada e maior resistência a doenças. Vi seus olhos brilharem ao falar do quanto espera colher daqui há alguns anos e lucrar com este seu investimento. Sua roupa suja e rasgada, sua casa com piso arrebentado e telhado cheio de falhas. Seu único veículo é uma velha bicicleta encostada do lado de fora da casa. Esta é a vida atual dos filhos dos coronéis do cacau que, em uma sinistra mistura de esperança e ilusão, ainda esperam a volta da fartura. A arroba do cacau está de R$ 135,00 – Sua última palavra de ânimo antes de nos despedirmos. Foi o suficiente para meus olhos se encherem de lágrimas. Pensei comigo mesmo: O cacau acabou!

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